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Mário Magalhães alerta para a "obscena concentração" da imprensa

Na abertura do 36º Congresso Estadual dos Jornalistas, o ex-ombudsman da Folha de S. Paulo e biógrafo de Carlos Marighella apresentou suas reflexões sobre a profissão.

 

Naira Hofmeister

 

Partindo do pressuposto de que jornalismo, é, em última instância, um serviço público ("embora operado muitas vezes por empresas privadas"), o ex-ombudsman da Folha de S. Paulo e biógrafo de Carlos Marighella, Mário Magalhães, trouxe reflexões ao 36º Congresso Estadual dos Jornalistas sobre como a imprensa pode contribuir para o fortalecimento da democracia. Magalhães palestrou na noite de sexta-feira, dia 7, logo após a abertura do evento.

 

"O pluralismo é a grande virtude do jornalismo. Se não conhecer múltiplos pontos de vista, é impossível ao cidadão formar opinião. Quanto mais plural a mídia, mais forte a democracia e vice-versa", defende.

 

Embora o Brasil viva sob um sistema democrático, Magalhães chamou a atenção para a falta de debate sobre determinadas questões na imprensa brasileira. A missão ("ou seria intervenção?") brasileira no Haiti ou a necessidade de punir violadores de direitos humanos durante a Ditadura Militar brasileira, por exemplo.

 

"Sempre que há uma prisão de um nazista responsável pelo holocausto nossa imprensa saúda. Mas não é assim quando é para punir um militar responsável por mortes e desaparecimentos forçados", comparou, deixando claro que sua intenção era mostrar a falta de debate sobre questões como esta, e não defender uma ou outra postura.

 

Outro exemplo citado pelo jornalista foi a Lei de Responsabilidade Fiscal. "Por que não somos capazes de discutir se essa norma é realmente importante? Com ela, os credores do Estado sempre recebem seus pagamentos em dia e são cortados gastos públicos para os mais pobres", provoca.

 

Sobre "excesso de gastos públicos do Estado", Magalhães foi mais longe. Afirmou que em casos como este, a imprensa ultrapassa a negligência ao decidir não expor o assunto ao debate. "Há uma lavagem cerebral", condena.

 

Ele se refere a repetição incansável de uma mesma opinião sobre o tema, inclusive com a manutenção dos mesmos entrevistados sempre. "O sujeito liga o rádio de manhã e está lá um especialista em contas públicas. Ele também está nos jornais, em blogs, em toda a esfera midiática".

 

A falta de pluralismo, entretanto, não é uma característica do atual momento da imprensa nacional. "Eu quero lembrar que os jornais em sua maioria deram suporte ao golpe militar de 1964 e, antes mesmo disso, em 1954, o presidente Getúlio Vargas ficou só e deu cabo a própria vida depois de ter sido afastado do poder".

 

A diferença, apontou Magalhães, é que em outros tempos havia um  número maior de veículos de comunicação. "No Rio de Janeiro eram mais de 30 jornais. Hoje são seis, sendo que cinco deles pertencem a duas empresas diferentes".

 

O pluralismo, portanto, se reduz na medida em que o poder da informação está nas mãos de poucos veículos, ou, ainda mais grave, de poucas famílias no Brasil. "O maior obstáculo ao pluralismo e a difusão democrática da informação é a obscena concentração dos meios de comunicação no Brasil", defendeu.

 

Por outro lado, Magalhães é cuidadoso ao avaliar a importância da internet como contraponto ao monopólio da comunicação e como espaço de livre difusão de pontos de vista. "Em pleno auge das jornadas de junho, 80% da informação repassada via twitter tinha origem nos grandes veículos de informação e apenas 5% era proveniente de amadores".

Magalhães falou sobre postura da imprensa no golpe de 1964 e nas manifestações de julho. (Foto: Luiz Avila)

Fonte: Imprensa/SINDJORS

Publicada em 08/03/2014 22:40


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