Notícias


Linguagem e estruturas de poder são debatidos em painel sobre gênero na imprensa

No Dia Internacional da Mulher, duas ativistas da causa feminista apresentam ao público questões sobre a responsabilidade da imprensa na abordagem de temas relacionados a gênero.

 

Bruna Fernanda Suptitz

 

As jornalistas Telia Negrão e Eliane Silveira são militantes da causa feminista e, juntas, proporcionaram aos participantes do 36º Congresso Estadual dos Jornalistas um amplo debate sobre o espaço dedicado às mulheres nos meios de comunicação. Com o painel "Gênero e a responsabilidade social da imprensa" elas concordam que, no papel de personagem, a mulher ainda é representada com uma imagem negativa.

 

A mediadora Vera Daisy Barcellos, 2ª vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, iniciou o painel com uma reflexão sobre o significado do Dia Internacional da Mulher. “Além da data comercial e da banalização, este 8 de março, nascido há 104 anos em Copenhague, na Dinamarca, tem significado muito mais profundo que meros cumprimentos. É dia de luta das mulheres por igualdade e autonomia.”

 

Em sua fala, Eliane, que participa da Marcha Mundial das Mulheres e é coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação no Rio Grande do Sul, apresentou o termo mito de Eva. “A mulher é apresentada como vilã e todo o resto é esquecido”, ressaltou, ao lembrar episódios em que a participação de mulheres se sobressaía a outros problemas envolvidos. Ela aproveita o exemplo para chamar a atenção para o fato dos meios de comunicação, que não conseguem trabalhar o conceito editorial no qual se baseiam para apresentar a mulher como protagonista de uma história.

 

Outro ponto destacado pela jornalista é que os questionamentos das mulheres sobre a abordagem de temas a elas relacionados é, frequentemente, alvo de críticas. Ela, que opta por não assistir o conteúdo de uma emissora de TV aberta nem atentar para alguns cronistas e chargistas gaúchos, conta já ter ouvido que sua luta por respeito “é exagero, vai contra a liberdade de expressão”.

 

As armadilhas que são colocadas diariamente aos profissionais de imprensa devem ser, na visão de Eliane, objeto de reflexão. Ela se refere, entre outras coisas, à falsa polêmica da censura e da liberdade de opinião. “Se quer opinar, que apareça como opinião e não escondido em uma matéria que se diz isenta”, conclui.

 

Na sequência, Telia elogiou a classe dos jornalistas gaúchos que, para ela, estão “iniciando uma jornada importante de afirmação que aponta para uma maior mobilização da categoria no estado”. A cientista política e coordenadora da ONG Coletivo Feminino Plural vê, como reflexo disso, o crescimento na participação de mulheres e jovens em setores que lutam pelos direitos dos jornalistas.

 

“O conceito de feminino e masculino está dentro de todas as instituições, onde se traduzem ideias em imagens”, destaca Telia, ao lembrar que essas construções culturais estão constituídas também dentro da imprensa. Como um avanço, pode se destacar o entendimento de que, se existe desigualdade de gênero na sociedade, cabe a todos participarem da mudança.

 

Pesquisadora dos meios de comunicação, a ativista lamenta que, ao considerar o ciberespaço como mídia, o jornalismo passa por um processo de banalização. Ela critica ainda a diferença de tratamento nas questões históricas sociais apresentadas como natural. “Mudar a linguagem é mudar simbolicamente as estruturas de poder”, conclui.

 

O público pôde se manifestar, ao fim da apresentação dos painéis, com contribuições e pedidos de esclarecimento às palestrantes. Em todas as falas, o Dia Internacional da Mulher mereceu destaque e homenagens pela luta por igualdade entre os gêneros.

 

 As mulheres da mesa foram presenteadas com uma bruxinha, um dos símbolos do movimento feminista.(Foto: Luiz Avila)

Fonte: Imprensa/SINDJORS

Publicada em 09/03/2014 00:38


Copyright © SINDJORS. Todos os Direitos Reservados.