Notícias


O apoio da mídia ao golpe de 1964 pautou debate entre jornalistas

No mês em que se completam 50 anos do golpe militar de 1964, jornalistas fazem avaliação de como a imprensa se comportou durante os anos de repressão.

 

Bruna Fernanda Suptitz

 

A imprensa foi atingida pelo golpe que ajudou a construir. Esta é a avaliação que os jornalistas Rafael Guimaraens e Antônio Oliveira apresentaram no 36º Congresso Estadual dos Jornalistas sobre a tomada do poder pelos militares em 1964. Com mediação de Jorge Correa, o painel “50 anos do golpe de 1964: liberdade de expressão x censura” proporcionou aos participantes do evento uma reflexão sobre a atuação da mídia antes e durante o período de ditadura no Brasil.

 

Correa abriu a atividade falando sobre a necessidade de resgatar a história de crimes ocorridos no período que o país viveu sob repressão. A importância deste trabalho é contribuir para o entendimento daquelas pessoas, especialmente as mais jovens, que desconhecem o que de fato aconteceu.

 

Para Guimaraens, que integra a Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, “os jornais não só contribuíram com o golpe como muitas vezes foram protagonistas”. Para exemplificar ele cita a intenção da imprensa em desqualificar a representação política da época, legitimamente instituída pela população. “Os meios de comunicação passaram por cima da representação constitucional”, avalia.

 

Com o poder militar já constituído, a imprensa foi atingida pelo Ato Inconstitucional Número Cinco, que privou da liberdade de expressão quem trabalha com ela. Aos veículos de comunicação que contribuíram para a ascensão do novo governo, Guimaraens entende que “a imprensa que quis assumir papel de protagonista ao invés de testemunha, em 1964, foi atingida em 1968, quando sofreu com a censura”.

 

Ainda hoje, 50 anos depois do golpe de estado, a relação entre algumas empresas de comunicação e seu público é complicada. O jornalista destaca que, durante as jornadas de junho de 2013, a Rede Globo se viu obrigada a fazer um editorial com mea-culpa, no qual retoma o apoio prestado à ditadura e diz reconhecer este como um erro.

 

Oliveira iniciou sua carreira como jornalista quando a censura prévia já vigorava no Brasil. O diretor de jornalismo da Fundação Cultural Piratini conduziu sua fala no painel em forma de relato do que viveu. Ele lembra que, naquela época, não havia interação entre jornalistas e trabalhadores de outras categorias. “Havia desconfiança pelo apoio que as empresas de comunicação deram ao golpe”, conta.

 

Membro dos movimentos sindicais, o jornalista negociou com a diretoria do jornal Zero Hora, onde atuava, a publicação na íntegra de um manifesto dos trabalhadores durante o período da ditadura. “Aquilo virou notícia nacional, foi o primeiro manifesto contra a ditadura partindo dos trabalhadores”, recorda.

 

Com o tempo, a censura evoluiu dentro das redações. Oliveira conta que o censor já não se fazia mais presente, “só ligava e dizia o que não poderia sair”. Em protesto, alguns jornais passaram a publicar receitas ou poemas na capa, uma maneira de mostrar que não estavam satisfeitos com a situação.

 

“Era muito comum chegar ao trabalho e não encontrar com os colegas que estavam lá no dia anterior.” Esse depoimento de Oliveira emocionou a ele e ao público. Com aplausos em diversos momentos, o painel em clima de conversa seguiu com relatos das recordações da plenária. Passados 50 anos do golpe, um ponto é consenso entre os jornalistas presentes no congresso: lembrar o que aconteceu ajuda a reconstruir a história do Brasil. 

 

Fonte: Imprensa/SINDJORS

Publicada em 09/03/2014 18:13


Copyright © SINDJORS. Todos os Direitos Reservados.